Texto by Roberto Mansur
” Li, acompanhei e vivi tudo que se passou até aqui. Senti a necessidade de dar um testemunho do que é lutar ao lado do amor da minha vida com câncer.
Acho que nestes casos quando se compartilha a dor do outro, o processo se parece como o calor, quanto mais próximo da fonte mais se sente, inversamente proporcional ao quadrado da distância. Posso dizer que senti uma parte da dor junto com suas companheiras: a frustação, o medo e a impotência.
Tem aquela célebre frase : “você não sabe o que eu estou sentindo”. Até viver esta experiência eu achava que a frase não fazia muito sentido, porém agora, consigo compreendê-la melhor. É difícil ser empático, tem que ver a dor com os olhos do outro, não com o seu próprio, o processo é doloroso e o mais fácil é não o ser.
A dor começou com o diagnóstico em mãos. O medo trombou comigo na primeira cirurgia, e se não der certo, e se não for suficiente. Encontrei a frustação no congresso de mastologia, percebi que o câncer é um velho desconhecido para todos, pacientes e médicos. Que o melhor possível é ganhar uma ou duas chances a mais no cara ou coroa. Aí encontrei também a impotência, não havia muito a ser feito, apenas seguir o protocolo e torcer, controle zero da situação.
Acho que eu e a Laura jogamos aquele jogo de esconde esconde com nossas emoções, ninguém queria fazer o outro sofrer e tinha que ser forte para que o outro tivesse força para enfrentar tudo. Nós dois estávamos exaustos, eu com um pedaço da dor e ela carregando inteira…
Meu amor, neste jogo da vida você é campeã e uma guerreira, vivemos este momento juntos e estarei sempre ao seu lado carregando um pedaço do que eu consigo, mas feliz por viver mais um dia com você. Saímos fortes e sairemos vencedores, a esperança nunca nos deixou.”