Agora é a minha vez

Texto by Roberto Mansur

” Li, acompanhei e vivi tudo que se passou até aqui. Senti a necessidade de dar um testemunho do que é lutar ao lado do amor da minha vida com câncer.

Acho que nestes casos quando se compartilha a dor do outro, o processo se parece como o calor, quanto mais próximo da fonte mais se sente, inversamente proporcional ao quadrado da distância. Posso dizer que senti uma parte da dor junto com suas companheiras: a frustação, o medo e a impotência.

Tem aquela célebre frase : “você não sabe o que eu estou sentindo”. Até viver esta experiência eu achava que a frase não fazia muito sentido, porém agora, consigo compreendê-la melhor. É difícil ser empático, tem que ver a dor com os olhos do outro, não com o seu próprio, o processo é doloroso e o mais fácil é não o ser.

A dor começou com o diagnóstico em mãos. O medo trombou comigo na primeira cirurgia, e se não der certo, e se não for suficiente. Encontrei a frustação no congresso de mastologia, percebi que o câncer é um velho desconhecido para todos, pacientes e médicos. Que o melhor possível é ganhar uma ou duas chances a mais no cara ou coroa. Aí encontrei também a impotência, não havia muito a ser feito, apenas seguir o protocolo e torcer, controle zero da situação.

Acho que eu e a Laura jogamos aquele jogo de esconde esconde com nossas emoções, ninguém queria fazer o outro sofrer e tinha que ser forte para que o outro tivesse força para enfrentar tudo. Nós dois estávamos exaustos, eu com um pedaço da dor e ela carregando inteira…

Meu amor, neste jogo da vida você é campeã e uma guerreira, vivemos este momento juntos e estarei sempre ao seu lado carregando um pedaço do que eu consigo, mas feliz por viver mais um dia com você. Saímos fortes e sairemos vencedores, a esperança nunca nos deixou.”

E o cateter resolveu sair por conta própria 

Uma mistura de felicidade, alívio, insegurança, medo e mais um monte de coisa.

Dia 15/06, em plena quinta-feira de feriado, lá estava eu no pronto socorro para mais uma cirurgia de emergência. Desta vez para tirar o cateter que começou a sair por conta própria.

Se por um lado eu contava os dias ansiosamente  para me livrar do cateter. Por outro lado ter que tirar ele antes da hora foi marcado pela insegurança de uma cirurgia não planejada e o receio de ter que colocar novamente depois.

Tudo começou no fim do ano passado após uma mamografia, quando o cateter começou a virar dentro de mim e a machucar a pele de dentro para fora.

A cada dia que passava parecia que o cateter queria sair mais. Até que no dia 12/06 fui fazer a limpeza do cateter, como fiz durante todos os meses deste ano. A enfermeira acabou exagerando na força. Reclamei da dor na hora, mas ela fez o curativo e fui para casa.

Na noite seguinte ao tirar o curativo vi que tinha algo estranho. Marquei um exame para quarta na hora do almoço e descobri que o meu cateter estava saindo. A pele tinha rasgado e ele já estava levemente exposto e eu teria que tirar com urgência para evitar infecção ou que saísse de vez do corpo.

Apesar da falta de respeito do médico que marcou comigo às 9:00 de jejum e foi embora deixando os residentes sozinhos para fazerem a cirurgia que começou depois das 14:00, tudo ocorreu bem.

Desta vez a anestesia foi apenas local, fiquei acordada e totalmente consciente durante toda a cirurgia e tive alta no mesmo dia. 

E assim foi, com mais emoção do que eu gostaria, mas finalmente me livrei deste cateter que tanto me incomodava.